Nessa manhã de inverno e sol, complacente, desprendera sôbre a terra um bafo morno. A diafaneidade reverberante de luz, a pureza tépida da doce viração alagavam o coração de Rafael em ondas de prazer.
Da pasta tremulava já um «grêlo» azul. Deitou a capa ao
ombro, consultou o relógio: faltavam dois minutos e o átrio das Químicas, ali
perto, estava meio deserto.
Sentados nos plintos das colunas, dispersos pelas escadas de
entrada, uma dúzia de colegas falazavam.
Media o tempo a cadência dos passos; a voz das raparigas, em
notas mais agudas, ritmava o sussurro e, lá dentro, no ádito, iam-se
aglomerando novos grupos.
O archeiro, agaloado de verde, apertado no uniforme justo,
ia gastando o tempo. [...]
Rafael enveredou seus passos para o Castelo. Por tôda a parte
enxameiam manchas negras de capas.
Cêrca da Associação Académica há grande falazar: troços de
moços contravêm com sanha, invectivam outros com afã inimigos irosos e cada
qual porfia em alfaiar o preferido com mais avantajada cópia de primores.
Próximas estão as eleições para o Senado e os moços estudantes não cessam
afanosos combates em prol da sua dama: a Idea.
Romance colonial, resultante das vivências da autora em
África. Um jovem - Rafael - abandona os estudos em Coimbra para embarcar com
destino a Moçambique. As primeiras 33 páginas da obra são dedicadas ao ambiente
estudantil, pejadas de referências às tradições universitárias coimbrãs.
GUERRA, Maria Sofia Pomba - DOIS ANOS EM ÁFRICA. Prefácio de
Vitorino Nemésio. Ilustrações de Aurora Severo. [S.l.], Edição da Autora, 1935
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