O Tempo representa para a Música muito mais do que uma folha
em branco. Para lá de um fluxo em que decorrem ritmos, melodias, timbres e
combinações harmónicas, a dimensão temporal substancia-se em si mesma enquanto
discurso, naquilo que modela e nos permite entender e sentir o que quer que
seja. É por isso que podemos considerar os compositores como autênticos Mestres
do Tempo.
Numa vertente mais concreta, e se recuarmos até há pouco
mais de dois séculos, o relógio mecânico proporcionava a ilusão do seu domínio,
marcando e contando com precisão algo que antes parecia intangível. Tornou-se
então objeto de fascínio em sociedades que se pretendiam modernas e
sofisticadas, de tal modo que merecia alusões explícitas em obras de arte.
É o caso das sinfonias N.º 101 de Haydn e N.º 8 de Beethoven, em cujos segundos andamentos é possível reconhecer o característico som do tique-taque.
Francisco Mateus, animador da TSF e criador da Rádio Crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário