O tempo é um dos grandes mistérios do mundo e, por isso, um tema cont8nuado da poesia. Na Segunda Lei da Termodinâmica, a única lei física que permite distinguir entre passado e futuro, aparece uma grandeza chamada entropia que cresce inexoravelmente nos sistemas isolados. Charles P. Snow disse, na sua famosa conferência de 1959 sobre «as duas culturas», que não conhecer Shakespeare era tão grave como não conhecer a Segunda Lei. A entropia é uma medida da desordem, isto é, o futuro distingue-se do passado por ser mais desordenado. O poeta do Porto joga com o tema universal da desordem quando refere a desordem dos «barcos na Cantareira», das árvores de fruta no pomar ou dos amigos sentados a uma mesa, em três dos poemas. A tensão entre ordem e desordem está, de resto, omnipresente.
Para os seres humanos, o grande problema do tempo é não serem eternos. O tema da morte é eloquentemente tratado no poema «Comentário sobre os velhos» (o poeta é irónico: «Alguém tem de/ ir à frente. a ir alguém/ que vão/ os velhos (…) ) ou no poema «Auto-retrato (ao cinquenta e cinco anos)» (“A/ cada noite que passa os pés/ensaiam no leito/ a sua/ posição final. A estátua definitiva (…)». A ironia aqui é o poeta dizer que acordamos, normalmente, com os pés em forma de V de vitória (ou em forma de W, se há dois corpos, acrescenta num parêntesis).
Um grande poeta a seguir com grande atenção. Ainda tem muito tempo pela frente…
Carlos Fiolhais sobre João Luís Barreto Guimarães, aqui
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