Os Últimos Dias
Quando chegou a última semana,
Entrou por fim em Jerusalém.
Os judeus gritavam, ofegantes,
E enchiam de espinhos o caminho.
Terríveis dias os da tempestade.
Quando o coração se fecha ao amor,
Quando o desprezo desfigura os rostos,
Quando chega o último dia.
De chumbo, o céu, com todo o peso,
sobre os subúrbios se abateu.
E os fariseus, vivos, manhosos,
Procuram provas todo o dia.
Pela força obscura do templo,
Já o julgou a populaça,
E a multidão que hoje o contempla
Maldiz quem ontem venerou.
No limiar das portas se acotovelam,
ao longo das ruas, avidamente,
e vão interrogando a escolta
Na expectativa do desfecho.
Falam vizinhos aos vizinhos
Acerca de lendas e de crenças;
Evocam-se episódios longínquos
Da fuga para o Egipto e da infância.
Também recordam o deserto
E a montanha onde o Demónio,
Para o vencer, lhe dera de presente
O império de todo o universo;
Recordam Canaã, o vinho e a água,
A emoção de todos os convivas,
E a caminhada sobre as ondas,
Por entre a bruma, na outra margem;
E recordam a descida ao túmulo
Das pobres gentes apavoradas;
Recordam a vela que vacilava;
Recordam Lázaro ressuscitado.
Boris Pasternak, in O Doutor Jivago, tradução de David Mourão-Ferreira
domingo, 13 de abril de 2014
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1 comentário:
Inútil foi recordar
os episódios passados:
perante os dados lançados
há que o destino aceitar!
JCN
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