A 14 de Março de 1976, o Partido Popular Democrático
realizava no Porto, mais propriamente na escadaria dos Paços do Concelho,
sobranceira à Avenida dos Aliados, um comício, no contexto das eleições que se
realizariam a 25 de Abril desse ano, para eleger, pela primeira vez, os seus
representantes na Assembleia da República, o novo órgão legislativo do regime
democrático que então dava os primeiros passos. E depois das eleições
disputadas, um ano antes, para a Assembleia Constituinte.
No comício do Porto, a figura principal era Francisco Sá Carneiro, natural da cidade, opositor na chamada Ala Liberal ao regime do Estado Novo, fundador e líder do PPD (hoje PPD / PSD) no pós 25 de Abril de 1974.
Nas fotos, extraídas do livro "Sá Carneiro", da autoria de Alfredo Cunha e Luís Vasconcelos (Cognitio, 1981), além do líder do PPD e de outros dirigentes do partido, aparece um jovem jornalista, dos quadros da agência noticiosa nacional, a ANOP (anteriormente ANI, posteriormente NP e, hoje LUSA).
Recordamos aqui, 49 anos depois, este comício, aproveitando a exposição que a Câmara Municipal do Porto, em parceria com a Biblioteca e Arquivo Ephemera, de José Pacheco Pereira, leva a efeito por este dias, exatamente nos Paços do Concelho da cidade.
Juntamos mais duas fotografias, respeitantes à atividade
da ANOP e dos seus jornalistas, onde Sá Carneiro é a figura central.
O jornalista Rui Pimenta, já falecido, com Sá Carneiro, em Ferreira do Alentejo, também em 1980
O cartaz da exposição
O depoimento de José Pacheco Pereira:
Em 2009, fui contactado por Conceição Monteiro que me
perguntou “se eu queria uns papéis de Sá Carneiro”. Disse logo que sim,
convencido que era uma pasta ou duas. Quando fui pela primeira vez a casa onde
se encontrava o Espólio verifiquei que era o seu arquivo pessoal contendo
documentos fundamentais sobre a história da democracia portuguesa, do PSD, e
dos governos da AD, centrados na figura de Francisco Sá Carneiro, desde a década
de 70, ainda em ditadura, até à sua morte em 1980. Conceição Monteiro, uma
personalidade fundamental da história do PSD, quer como secretária pessoal de
Sá Carneiro, militante, dirigente partidária e deputada, acompanhou de perto
todo o processo de fundação do partido e os anos difíceis da sua implantação e
afirmação na vida política nacional. Nesse contexto de dificuldades,
instabilidade e risco, Francisco Sá Carneiro confiou a Conceição Monteiro muito
do seu próprio arquivo pessoal, que esta organizou e classificou, permanecendo
“escondido”. O arquivo doado representa cerca de 12 metros lineares de
documentação, quase toda organizada em pastas de arquivo e em pastas por
assunto, havendo apenas uma muito pequena parte que se encontrava dispersa,
coincidindo com a data da sua morte, uns dias antes, uns dias depois.
A exposição que vamos inaugurar é também uma homenagem mais que merecida a Conceição Monteiro que, para a sua preparação, ofereceu mais materiais que não estavam incluídos na entrega inicial, e que vão melhorar o conhecimento da acção de Sá Carneiro e os primeiros tempos do PPD. Num momento em que os partidos não cuidam da sua memória, no caso do PSD foi a atitude de alguns dos seus militantes fundadores, e eles próprios testemunhas directas de muitos acontecimentos, que permitiu conhecer melhor a história portuguesa dos últimos 50 anos.
Tem, por isso, todo o sentido que a CM do Porto e o seu
Presidente Rui Moreira, tenham incluído esta exposição nas comemorações do
aniversário do 25 de Abril.
O comunicado de imprensa da CM do Porto sobre a exposição “Francisco Sá Carneiro e a construção da democracia”, organizada pelo Ephemera, onde somos voluntário, coordenando os Núcleos do Tempo e da Gastronomia:
Porto celebra valores de Abril com exposição inédita sobre a
vida e legado de Francisco Sá Carneiro
A exposição “Francisco Sá Carneiro e a Construção da
Democracia” integra as comemorações do 25 de Abril da Câmara Municipal do
Porto. Fruto de uma parceria entre o Município e a Associação Cultural
Ephemera, a mostra vai revelar documentos, até agora inéditos e reservados,
sobre a vida pública do fundador do Partido Popular Democrático (PPD). Estará
patente de 23 de abril a 30 de junho, no Átrio dos Paços do Concelho. A entrada
é livre.
Com a curadoria e
textos de José Pacheco Pereira, a exposição irá abordar a vida pública de
Francisco Sá Carneiro, desde a sua origem até à sua morte, estabelecendo-se em
três grandes núcleos temporais e documentais: antes do 25 de Abril, do período
revolucionário até à consolidação do regime democrático e, por fim, o legado
político do fundador do PPD.
Com esta narrativa cronológica, a mostra expositiva vai
desvendando documentos inéditos pertencentes ao espólio de Sá Carneiro e a
militantes e dirigentes do partido. Tratam-se, na sua maioria, de manuscritos,
correspondência, notas de reuniões, agendas pessoais, policopiados, livros,
entre outros. Serão igualmente exibidos materiais iconográficos originais,
cartazes, desenhos, autocolantes, objetos e bandeiras.
Na mais completa exposição jamais feita sobre o político,
que perdeu a vida na queda de um avião, a 4 de dezembro de 1980, em Camarate,
os elementos exibidos trarão à tona o pensamento e ação do antigo
Primeiro-Ministro português, bem como o seu relacionamento com os principais
atores no plano nacional e internacional à época.
A ação política antes do 25 de Abril, a construção do PPD, a
escolha das figuras que com ele participaram nesse projeto político, o
programa, o nome, os estatutos, a definição de estratégias e o seu próprio
percurso enquanto figura pública, serão os temas em destaque.
Com inauguração marcada para o dia 23 de abril, a exposição
poderá ser visitada no Átrio da Câmara Municipal do Porto até 30 de junho, de
segunda a sexta-feira, das 9 às 19 horas, e aos sábados e feriados das 10 às 19
horas.
Espólio conservado pela secretária pessoal de Francisco Sá
Carneiro
Foi em dezembro do ano passado que o Município do Porto e a
Associação Cultural Ephemera revelaram estar a organizar uma exposição sobre a
vida de Sá Carneiro, que vai ser dedicada a Conceição Monteiro - secretária
pessoal de Sá Carneiro, que conservou grande parte dos documentos, pela
primeira vez revelados ao público - e à memória de Miguel Veiga (1936-2016).
O arquivo doado ao Ephemera representa cerca de 12 metros
lineares de documentação, quase toda organizada em pastas de arquivo e em
pastas por assunto, havendo apenas uma muito pequena parte que se encontrava
dispersa, coincidindo com a data da sua morte.
Notáveis na Comissão de Honra e na conceção do projeto
expositivo
A Comissão de Honra da exposição “Francisco Sá Carneiro e a
Construção da Democracia” é constituída pelo Presidente da República, Marcelo
Rebelo de Sousa, pelo Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira,
pelo fundador do PPD e antigo Primeiro-Ministro, Francisco Pinto Balsemão, pelo
antigo Ministro do Trabalho e Segurança Social social-democrata, Amândio de
Azevedo, pelo antigo secretário-geral do PSD, António Capucho, pela secretária
de Francisco Sá Caneiro, Conceição Monteiro, pelo histórico fundador do PSD,
Pedro Roseta, e por Manuela Aguiar, membro do Governo da AD.
A estes nomes juntam-se personalidades reconhecidas do meio
político e académico nacional, que deram igualmente o seu contributo para a
realização desta exposição. São elas o provedor da Santa Casa da Misericórdia
do Porto, António Tavares, o ex-chefe do Gabinete do Presidente da Câmara
Municipal do Porto e docente universitário, Vasco Ribeiro, e os
sociais-democratas Palmira Lobo e Francisco Freitas Carvalho.
A equipa da Associação Cultural Ephemera participa também na
conceção e montagem do projeto.
Francisco Sá Carneiro teria completado 90 anos em 2024. O
Porto foi a cidade berço do político, nascido na Rua da Picaria, em 1934.








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