Não sei se era visão, filha do Mêdo,
Se verdadeira apparição nocturna;
Mas da sombra profunda do arvoredo,
Que o luar tornava muito mais soturna,
Vinham surgindo mysteriosamente
Phantasmas espectraes que eu distinguia
Através do sudário transparente
Como o primeiro alvorecer do dia...
E por deante de mim todos passavam,
E olhavam-me e choravam...
De mágoa ou compaixão, não sei dizê-lo;
Mas tudo o que aos meus olhos evocavam
Parecia-me um longo pesadelo...
Eram os Sonhos, as Chimeras mortas
Na minha morta Phantasia,
Que do vasto sepulcro abrindo as portas,
Passavam nessa funebre theoria...
Projectos, Intenções, Ideias, Planos,
Illusões d'um passado esquecido e desfeito,
Na areia que rolou da ampulheta dos annos
E que um vento de morte espalhou no meu peito.
António Joaquim de Castro Feijó - Sol de Inverno: ultimos versos : 1915
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