O HOMEM QUE QUERIA VIVER MAIS TEMPO.
Atrasava o relógio todos os dias uma hora mas começou a achar que não era o suficiente, passou para duas horas, três, quatro, cinco…
Não era o tempo suficiente queria mais e mais.
Virou e revirou o calendário semanas, meses, anos.
Deitou o calendário fora e foi buscar outros de outros séculos.
Ainda não era o tempo suficiente.
Encontrou-se no tempo em que o tempo não tinha calendários.
E tão atrás era que a Terra se incandesceu como uma bola de fogo que saiu da sua órbita e foi vaguear no espaço ao encontro de outros planetas eles também bolas de fogo que se uniram num só.
As galáxias enlaçaram-se, o Universo encolheu-se até ser apenas um pequeno ponto branco suspenso no espaço.
E o ponto ali estava, suspenso sem qualquer movimento, intransponível.
Quando acordou nessa manhã lembrou-se do ponto branco e da luta que o seu espírito durante toda a noite se tinha debatido numa viagem através do tempo.
O porquê desse ponto, seria aquilo a que chamam “Deus”, o inexplicável?
Porquê que no sonho não conseguiu ir para além do ponto branco, o que estava oculto por detrás dele, isto é, se oculto algum havia.
Era como se batesse numa porta que não abria ou que do outro lado estivesse uma parede a barrar a entrada.
Durante o resto da manhã não pensou mais nisso, se durante o seu sonho o espírito liberto não tinha conseguido ultrapassar essa barreira, agora com o peso envolvente do dia a dia em que era “bombardeado” com todo o tipo de solicitações, informações e outras coisas a que estava sujeito mas que não tinha pedido, nem queria fazer parte delas, não conseguia ter o discernimento para tentar deslindar o inultrapassável.
Quando ia a sair de casa olhou para o relógio para ver as horas, voltou a puxar o punho da camisa para voltar a ver as horas no relógio, com a outra mão puxou a carrapeta do relógio e atrasou-o.
21.Fevereiro.2023
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