A esse tempo ia-se já definindo a manhã, na
luz, no som, na cor. Invadia a amplidão da cúpula
celeste uma tinta alvacenta, onde as estrelas
feneciam no seu brilho. Ao alto, na ladeira de além,
entravam de fazer-se nítidas as linhas sinuosas das
cristas, onde enormes rochedos tinham atitudes de
uma imobilidade misteriosa e sinistra... Neste
assomo de alvorada, as coisas iam despertando
lentamente para a alacridade vigorosa da luz. Das
moitas e sebes, calhandras em bandos levantavam-se repentinamente, em voo perpendicular, e
cortavam ares fora, chilreantes e alegres, até se
perderem de vista por detrás dos arvoredos e
cabeços. De cauda em riste e orelhas imóveis, o
rafeiro espreitava as ervagens secas, onde algum réptil passasse vagaroso.
Trindade Coelho, Os Meus Amores
terça-feira, 1 de outubro de 2019
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