sexta-feira, 9 de junho de 2017
Tempo subterrâneo - Adriano Miranda e o seu "Carvão de Aço" na Mina de São Domingos
Adriano Miranda expõe fotos do seu livro Carvão de Aço no Cine-Teatro da Mina de São Domingos, Mértola, até 29 de Junho. O autor esteve hoje nesta zona na margem esquerda do Guadiana para inaugurar a mostra e contextualizar o livro.
Há quase década e meia que não estávamos com Adriano Miranda. Fomos camaradas no jornal PÙBLICO, onde ele ainda hoje trabalha, e nós à altura editávamos a Sociedade.
A apresentação do livro e do autor coube ao arqueólogo Cláudio Torres, há décadas radicado em Mértola.
A dureza do trabalho mineiro - desde a pré-história à actualidade, passando pelo Império Romano e a Revolução Industrial - foi recordada por Cláudio Torres, que falou de trabalho escravo e de comunidades de famílias que viviam em permanência no subsolo. Durante o período romano, "em troca dos alimentos, estas comunidades de escravos - e os respectivos filhos - nasciam, viviam e morriam debaixo da terra. Tinham que enviar o minério para a superfície, só assim recebiam em troca os víveres que lhes permitiam a sobrevivência", recordou.
O complexo mineiro de São Domingos - pirites / cobre, é explorado desde o tempo da ocupação romana. por iniciativa inglesa, no século XIX desempenhou papel importante na Revolução Industrial britânica - o minério português, embarcado em barcaças no Pomarão e, depois, em navios maiores na costa algarvia, até Inglaterra, daria muito do cobre que fez a electrificação das indústrias locais.
Numa intervenção emocionada, Adriano Miranda recordou como, em 1992, e no âmbito de um trabalho académico enquanto estudante no Ar.Co, passou uma época em convívio com os mineiros do Pejão, fotografando-os. Desafiado pela câmara de Castelo de Paiva, onde se situa o couto mineiro de carvão, a recuperar as imagens, o resultado foi o livro Carvão de Aço. As minas deixaram de laborar em 1994.
Carvão de Aço é um livro que retrata a preto e branco um mundo que, em Portugal, acabou. Mas que continua a existir em África, na Ásia ou na América Latina. São instantes de uma comunidade mineira, dura, suja, corajosa, solidária, como são todas. Para o autor, é uma Memória que deve ser mostrada e apreendida pelas gerações mais novas.
A exposição das fotografias de Adriano Miranda está incluída no VI Mineiro de São Domingos, que decorre hoje e amanhã.
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