Entre o verde complacente
das palavras corre o silêncio,
assim como um cabelo
cai - ou neve.
Já foi uma criança, esse verde,
inquieta de tanto olhar
a noite nos espelhos -
agora encostada ao meu ombro
dorme no outono inacabado.
É como se me fosse consentido
conciliar a flor do pessegueiro
com um coração fatigado,
essa criança que
no vento cresce simplesmente ou esquece.
Vai perder-se, não tarda,
vai perder-se na água sem memória;
assim como indiferente cai
um cabelo - ou neve.
Eugénio de Andrade (1923 - 2005)
Sem comentários:
Enviar um comentário