À esquerda, Jean-Claude Roustant, Secretário-geral da Fundação de Alta Relojoaria (em 2007), com a delegação portuguesa: Carlos Cunha, António Machado e Salomão Kolinski.
O que é a Alta Relojoaria? Define-se pela qualidade do mecanismo ou da caixa? Pela tradição do fabricante ou pelo preço elevado da peça? E a partir de que valor? Quem define as regras num sector em ebulição, onde marcas de moda ou recém-nascidas no mercado vendem relógios a preços muito elevados, entrando no território das velhas e respeitadas manufacturas? A Foundation de la Haute Horlogerie pretende dar respostas a estas e outras questões, como a formação profissional ou a cultura relojoeira junto do consumidor final.
A Foundation de la Haute Horlogerie (FHH), existente desde finais de 2005, realizou recentemente em Madrid uma sessão de apresentação dos seus representantes e embaixadores ibéricos. Jean-Claude Roustant, Secretário-geral da instituição foi o anfitrião.
Herdeira da defunta Associação Interprofissional de Alta Relojoaria (AIHH, segundo o acrónimo francês), e também ela fruto da iniciativa do Richemont Group e do histórico Franco Cologni, a FHH tem uma espinhosa mas declarada missão pela frente: definir o que é ou não Alta Relojoaria. Adivinham-se fortes controvérsias num sector onde “legitimidade” é hoje um conceito muito vago.
A FHH opera em dois campos distintos e complementares: actividades culturais e institucionais, não lucrativas, levadas a cabo por um Centro Cultural da Alta Relojoaria (CCHH); e actividades de natureza lucrativa, como exposições e eventos dedicados à Alta Relojoaria, sob a marca HH Events, com esta última a ser um dos principais financiadores da fundação. O Salão Internacional de Alta Relojoaria (SIHH, segundo o acrónimo em francês), que se realiza todos os anos em Genebra, é o seu principal evento.
Os fundadores da FHH, que estão representados no órgão máximo da instituição, o Conselho, são os independentes Audemars Piguet e Girard-Perregaux, bem como o Richemont Group, com o seu vasto port-folio de marcas (Cartier, Vacheron Constantin, Piaget, A. Lange & Sohne, Jaeger-LeCoultre, IWC, Panerai, Baume & Mercier…). Jasmine Audemars, Luigi Macaluso e Franco Cologni são os respectivos representantes nesse Conselho, com o último como seu Presidente.
O CCHH dá prioridade a dois campos essenciais – o treino e informação dirigidos aos diferentes participantes no sector da Alta Relojoaria e está dividido em dois órgãos: o Comité de Aconselhamento e o Centro de Estudos e de Pesquisa da Alta Relojoaria. O primeiro agrega figuras de reconhecido mérito, a nível internacional, independentes, e que têm por missão definir o perímetro exclusivo do que é ou não Alta Relojoaria, uma tarefa difícil, bem como definir os seus principais actores – os fabricantes, os vendedores, os comunicadores (jornalistas) e os consumidores finais. António Machado, da Machado Joalheiros, do Porto, é o único português nesse órgão, e representante da FHH em Portugal. A estes “Chefe de Missão” cabe depois escolher os Embaixadores da fundação nos respectivos países. Carlos Torres, da Torres Joalheiros, de Lisboa, Carlos Cunha, da Joalharia Cunha, de Valença, e Salomão Kolinski, da Tempus Internacional/Boutiques dos Relógios são membros fundadores da secção portuguesa da FHH.
Quanto ao Centro de Estudos e Pesquisa, trata-se de um observatório que se dedica à produção de informação detalhada, quantitativa e qualitativamente, sobre o sector da Alta Relojoaria. Promove estudos, eventos, fóruns, viagens temáticas, etc. e produz documentação escrita resultado das suas pesquisas, versando o passado histórico da Alta Relojoaria e o futuro potencial do sector nos seus diferentes aspectos. O site www.hautehorlogerie.org também está sob a sua responsabilidade. Iniciado há pouco mais de um ano, é já hoje considerado como um dos melhores sites do sector, com os seus artigos de análise, os filmes didácticos sobre os vários métiers d’art, dicionários, etc.
Mas a missão do Centro Cultural não se esgota aqui: o combate à contrafacção e a formação profissional estão também nos seus objectivos. Quanto ao treino específico, a fundação já está a patrocinar cursos de aperfeiçoamento nas várias áreas, para relojoeiros e vendedores e emite um certificado de “Assessor Perito” a quem tenha tido aproveitamento num exigente curso que tem provas sobre relógios mecânicos, técnicos e preciosos; técnicas de venda; manejo e ajuste do relógio; prova escrita sobre um tema definido. A criação de um círculo internacional de Alta Relojoaria, certificado e reconhecido por todos os agentes do sector, é um dos principais objectivos da FHH, talvez a missão mais difícil de ser atingida, dada a natural concorrência entre as marcas e grupos económicos presentes no mercado.
*Artigo publicado no Casual (22.06.07), Semanário Económico. O Secretário-Geral da FHH foi entretanto substituído.
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