Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

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terça-feira, 3 de junho de 2014

Iconografia do Tempo nos cemitérios protestantes de Lisboa (Alemão e Britânico)


Ampulheta alada sobre tochas invertidas, Cemitério Alemão de Lisboa

Visitámos recentemente os cemitérios protestantes de Lisboa, numa visita organizada pela Eu Amo Lisboa, guiada pelo especialista em arte funerária Francisco Queiroz. Os espaços do Cemitério Alemão e do Cemitério Britânico são relativamente perto um do outro, na zona da Estrela.

A arte tumular aborda uma simbologia muito específica, alguma dela focando o tempo, o seu fluxo, o fim, o mito do eterno retorno. Ampulhetas aladas, a foice de Cronos, Oroboros, são alguns desses casos, de que aqui deixamos exemplos.


Ampulheta alada no Cemitério Alemão de Lisboa



Retrato a óleo de Nicolaus Berend Schlick, alemão de Lübeck, o benemérito que comprou o tereno para o cemitério, inaugurado em 1822


Para um leigo como nós, aquilo que parecia uma alcachofra, e que já tínhamos visto em outros cemitérios portugueses, é afinal a Saudade (nome científico Scabiosa atropurpurea), como explicou Francisco Queiroz


A Saudade, à esquerda, com outra flor à direita, a perpétua (Gomphrena globosa), a mensagem não podia ser mais directa


O escudo da família von Moser, uma das mais representadas no cemitério


A estátua da Probidade, a única que Francisco Queiroz conhece em Portugal. Assinalando possivelmente a memória de um comerciante


Estela fúnebre de um militar


Entrada do Cemitério Britânico de Lisboa, o mais antigo de Portugal, iniciado em 1717


As ampulhetas continuam presentes, neste caso com a foice. A maioria das campas são do século XIX, com estética do Romantismo. Francisco Queiroz explica que o Romantismo abominava o carácter putrefacto da morte, elegendo antes simbologia perene - o crâneo e as tíbiass seriam as únicas partes do corpo que não estariam corrompidas, até ao Juizo Final. Daí a ominpresença destes motivos.






Neste caso, uma tocha invertida, mas havendo também casos de duas tochas invertidas cruzadas, significando o apagamento da chama da vida


A serpente que se come a si própria, como símbolo do Eterno Retorno e do Tempo sem início ou fim. Oroboros


Ampulheta com asas de morcego, outro tema recorrente





Túmulo com simbologia maçónica - cercando a lage, uma cerca de ferro e, nos quatro cantos, o conjunto compasso / esquadro. Está enterrado no local um tal Hugh Parry. Arriscamos que estamos na presença do fundador dos Estaleiros H. Parry & Son, de Cacilhas.




O Cemitério Britânico tem as primeiras sepulturas feitas em Portugal propositadamente para crianças. Uma pomba é normalmente usada para assinalar a juventude do falecido



Outra saudade


Um dos mais belos conjuntos escultóricos do cemitério - dois dandys choram a morte de um ente querido. A sepultura é de uma mulher. Mas a sepultura mais célebre no cemitério, sem beleza especial, é a de Henry Fielding, considerado "o pai da novela inglesa". Doente, veio a Lisboa para apanhar ares e... morreu meses depois. Antes, terá desabafado que não conhecia cidade mais porca que esta...


Conjunto extraordinário de cruzes celtas




O maior túmulo - o de Christian August, terceiro Príncipe de Waldeck, general gernânico que ajudou o Duque de Lafões (contra a vontade deste, ao que consta) na reorganização do Exército Português. Finou-se em 1798, em Sintra,16 meses depois de ter chegado e enterrado no Cemitério das Nações Estrangeiras de Lisboa, o antigo nome do Cemitério Britânico. As figuras terão sido decapitadas aquando das Invasões e da ocupação francesa de Lisboa

2 comentários:

João de Castro Nunes disse...


Cada crença tem seu jeito
de ao tempo dar expressão
consoante o preconceito
da sua religião!

JCN

José Movilha disse...

Magnífica visita a lugares que encerram tantas representações da simbologia fúnebre e esotérica. Um verdadeiro manancial de estudo não só das figuras jazentes como dos laços que as mesmas poderiam ter com organizações de fins rituais e observâncias. O meu obrigado por este contributo tão cultural.