Vê, Sílvio, como sacudindo o Inverno
As negras asas, solta a grossa chuva!
Cobre os outeiros das erguidas serras
Húmida névoa!
Na longa costa brada o mar irado
Sobre os cachopos; borbotões de espuma
Erguem as ondas; as cruéis cabeças
N'água negrejam.
O frio Noto, rígido soprando,
Dobra os ulmeiros, os currais derruba:
E o gado junto, pávido balando,
Une os focinhos.
Com duro frio Corydon tremendo,
A roxa face no surrão esconde;
C'os altos socos quebra a presa neve,
Corre à cabana.
Ali adjunta de podadas vides
os secos molhos; assoprando acende
Pobre fogueira, aonde as mãos aquenta
C'os rotos filhos.
Pulam nos olhos lágrimas, que enxuga
Na grossa manga, reprimindo forte
Acerbas dores, reflexões pesadas,
Tristes memórias!
Eis que zunindo furacões horríveis,
A porta arrancam dos moídos gonzos:
Corre assustado dum fuzil que o cega
À luz Vermelha!
Viu espalhadas víboras de fogo;
Ouviu, bramando, retumbar no vale
Os longos ecos do trovão, que abala
Os altos montes! [...]
Correia Garção
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
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1 comentário:
Tem seus encantos o inverno
quando à lareira se passa
e circula um fogo interno
dentro das almas em graça!
JCN
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