Crónica de hoje na Única, do Expresso:
Quando, em 1765, o Marquês de Pombal fundou a Real Fábrica dos Relógios, no complexo fabril das Amoreiras/Rato, em Lisboa, estava a reconhecer o gosto especial que os portugueses sempre tiveram por relógios e o dinheiro que estavam dispostos a gastar para os ter. A criação dessa fábrica, bem como as das sedas, de pentes, de louça ou mesmo de cartas de jogar, eram uma tentativa de, por um lado, industrializar o país; por outro, de travar o gasto de divisas em artigos de luxo. Quase dois séculos e meio passados, como está o gosto português por relógios?
Em Outubro de 2009 Portugal foi o único mercado europeu, e entre os 30 principais clientes de relojoaria helvética, a registar um aumento nas importações – uns impressionantes 26,1 por cento mais em valor do que em igual período de 2008.
No acumulado, de Janeiro a Outubro, Portugal regista uma quebra, da ordem dos 10,5 por cento, estando no 23º lugar entre os principais mercados, mas essa quebra é também a menor entre os países europeus (a Espanha, por exemplo, regista uma redução de 34,1 por cento e a quebra total de exportações de relojoaria suíça nos primeiros dez meses do ano está nos 25,5 por cento).
Factores exógenos recentes – consumidor final brasileiro e angolano que escolhe Lisboa como ponto de passagem mais ou menos regular nas viagens à Europa, e que aqui compra peças caras – ajudam a explicar um fenómeno que pode surpreender à primeira vista, dada a crise que o país vive.
Mas o mercado português de relojoaria tem características muito próprias, que não se encontram com facilidade em muito outro lado. Há, desde logo, uma tradição secular de gosto pelas máquinas do tempo – desde a relojoaria pendular à de bolso e, hoje, à de pulso. A existências de muitos coleccionadores, uma cultura relojoeira mais sólida que em países como Espanha, por exemplo, dão o gosto pelo relógio mecânico, considerado um valor seguro, patrimonial, que se adquire para sempre e não apenas como veículo de investimento. Assim, o consumo fica muito mais ao abrigo de “bolhas relojoeiras”, como sucedeu no país vizinho.
Os modelos que aqui lhe apresentamos têm provado ser dos mais perenes, numa indústria que, nos últimos 20 anos, se transformou e cresceu surpreendentemente. São dos tais “valores seguros” que, em tempos de crise, melhor sobrevivem.
Comprar um relógio de pulso de qualidade continua a ser encarado por muitos portugueses como um acto não apenas para usufruto pessoal, mas também uma forma de enriquecer o património familiar. Parafraseando uma frase célebre que uma marca de Alta Relojoaria tem usado na sua publicidade, “não somos verdadeiramente donos do nosso relógio, apenas o mantemos para a geração seguinte”. Não deixa de ser assim. Alguma vez lhe passaria pela cabeça deixar de herança e recordação a um filho o seu laptop ou o Blackberry de última geração?
Além do Rolex Submariner, fala-se dos Longines Master Collection Retrograde, Piaget Polo, Vacheron Constantin Overseas, Chopard L.U.C., Officine Panerai Luminor, Audemars Piguet Royal Oak, Breguet Classique, IWC Português, Jaeger-LeCoultre Reverso, e Patek Philippe World Time.
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