Data de 10 de Agosto de 1841 o documento de pagamento da reparação do relógio da torre de Belas ao relojoeiro João Pedro de Carvalho.
(Arquivo Municipal de Sintra)
O Relógio de Belas é uma das personagens do clássico
Relógios Falantes, de D. Francisco Manuel de Melo.
Em “A Introdução do Relógio Mecânico em Portugal”:
D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666), dava por
terminado 35 anos depois o primeiro de quatro Apólogos Dialogais – “Os Relógios
Falantes”. O autor escolhera o género literário apólogo, que confere a animais
e a objectos inanimados o dom da expressão pela palavra. No caso, o diálogo é
entre um relógio da cidade de Lisboa (o da Igreja das Chagas) e outro do campo,
de Belas (na região de Sintra). A obra termina com a seguinte referência:
“Nesta aldeia, em 20 de Setembro de 1654” (mas foi publicada apenas em 1721).
Porquê a escolha destes dois relógios como protagonistas?
Como lembra Maria de Lurdes Correia Fernandes [2], “esta aldeia” é certamente a
de Belas, um dos locais para onde se retirou temporariamente D. Francisco
depois da sentença de desterro perpétuo para o Brasil e na sequência da prisão
a que esteve sujeito entre 1644 e 1654 (ou 1655, ano em que parte para o
Brasil). “Um relógio cujas horas, nesse final de Verão de 1654, possivelmente,
D. Francisco ouviria soar regularmente”, diz a especialista. Nunca foram
totalmente esclarecidos os motivos da perseguição política a que o diplomata,
militar e escritor foi sujeito.
“Da mesma maneira, o outro dialogante deste apólogo não
é, simplesmente, um relógio de cidade. É, concretamente, o relógio das Chagas –
melhor, o relógio da Igreja das Chagas de Lisboa. Ora, a igreja das Chagas de
Cristo – que viria a ficar praticamente desfeita com o terramoto de 1755, mas
que foi reconstruída ainda nesse século – era uma muito próxima da Calçada do
Combro, onde D. Francisco possuía um solar de família, no qual terá nascido e
vivido na sua infância e parte da juventude. Deste modo, também o relógio das
Chagas era bem conhecido – e talvez outrora regularmente ouvido – por D.
Francisco, tanto mais que estaria colocado no mesmo campanário que, até por
razões fundacionais, anunciava alegremente à cidade a chegada das naus da
Índia. Hoje, na torre da igreja reconstruída, lá está um relógio (com dois
mostradores nas duas faces que dão para o rio), que conta apenas com o ponteiro
das horas, num desenho que, se não é original, é muito semelhante ao de vários
relógios da época”.
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