Tempestade
perfeita
Guerra comercial dos Estados Unidos contra o resto do mundo;
abrandamento da economia norte-americana; enfraquecimento do dólar;
fortalecimento do franco suíço; recorde no preço do ouro; demasiada produção de
relógios suíços face à procura; quebra acentuada do preço dos relógios em
segunda mão. Já se fala de uma “tempestade perfeita”.
Começemos pelo fim. Depois da bolha especulativa dos últimos
5 anos, o preço dos relógios usados está a ter uma redução brutal. Um relatório
da Morgan Stanley / WatchCharts Analisa o valor de retenção (VR) de nove marcas
de luxo. Apenas 3 – Rolex, Patek Philippe e Audemars Piguet — registam valor
positivo nesse indicador. O VR é a percentagem face ao preço médio no mercado
secundário, comparado com o valor no retalho.
Os modelos da Cartier, em média, perdem 29% do valor logo
que são comprados em primeira mão. Até o mais popular Santos perde 21%.
Na Omega, o Speedmaster quebra 25% logo após a compra. O
valor do De Ville reduz-se 46%.
Na Vacheron Constantin, o Overseas surge no mercado
secundário 12% abaixo do valor, e o FiftySix 31%.
A A. Lange & Söhne tem 5% de quebra media e a coleção Lange
1 perde 38%.
A IWC regista quebras de 28% no seu modelo Ingenieur e o Portofino
42%.
A Tudor que, segundo o relatório anual Morgan Stanley /
LuxeConsult, vendeu menos 34% em valor no ano passado, tem uma quebra média de 38.4%
nos preços do mercado secundário.
O problema, segundo opinião unânime dos observadores da
indústria relojoeira suíça, é a demasiada produção, a preços demasiado
elevados, para as atuais condições mundiais de mercado.
Como pano de fundo, a guerra comercial de Donald Trump –
ninguém sabe muito bem como irão ficar as taxas alfandegárias, mas as
exportações helvéticas para os Estados Unidos (com exceção dos produtos
farmacêuticos) subiram já de 3% para 10% e poderão chegar a mais de 30%.
A política tarifária de Trump parece levar a uma recessão
nos Estados Unidos, diminuindo a procura. O enfraquecimento do dólar face ao
franco suíço ajuda ainda mais ao aumento dos preços. O aumento do valor da
matéria-prima ouro encarece muitos dos modelos.
Um pequeno sinal positivo neste quadro negro: os americanos
estão a comprar, e cada vez mais, luxo fora dos Estados Unidos, nomeadamente no
México, Grã-Bretanha ou União Europeia. Mas isso não chegará para sustentar os
atuais níveis de produção da indústria relojoeira suíça.
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