- Até amanhã, meu caro Bernardo.
Rodolfo de Alderete Tavira e Nápoles, conde de Jogueiros,
depois das palavras de adeus, ficou com a mão estendida, dedos muito unidos,
semelhando uma raspadeira de marfim, diante do amigo.
Bernardo Sernancelhe levantou-se do fauteuil onde estivera
passando revista o exército de notícias do Times, e, depois de atirar um rápido
olhar ao relógio, interrogou:
- Vais já para casa?
- Vou.
- Tão cedo? Ainda não chegámos à hora trágica: a meia
noite...
- O club está hoje pior do que uma divorciada feia e
honesta...
Bernardo Sernancelhe mostrou sobre o bigode, cortado já por
alguns fios brancos, um sorriso irónico:
- Espera-te uma mulher...
- Não. Não me espera ninguem. Isto aqui, está monotono
demais. Safo-me, antes de ficar mais sério e severo do que os moveis que nos
rodeiam
- Bem. Acompanho-te.
O conde de Jogueiros achava melhor iludir o amigo com a
verdade da monotonia que os cercava. Como os comerciantes, tambem êle
considerava o segrêdo a alma dos negócios de amôr... [...]
O Club Portuense, o palacio da alta roda, a casa de família
do mundo elegante nortenho, arrastava nas suas salas desertas a saüdade algida
das noite de concerto e baile.
Á saída, o titular confessou:
- Já não se pode passar um inverno no Porto.
- Exageras, Rodolfo. Estamos ainda em Outubro.
- Oh! mas não há com quem se possa conversar.
- Sempre se estará aqui melhor que no teu solar do Douro.
- Hum! Duvido...
Guedes de Amorim, A Mulher do Próximo, 1933
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