No passado, uma saudade.
No presente, uma amargura,
E no futuro, uma esp'rança
De imaginária ventura;
Eis no que consiste a vida.
Imposta por Deus ao homem.
N'isto se consomem dias!
N'isto anos se consomem!
Saudade é flor sem perfumes
Quando ainda verdejante,
Mas à medida que murcha,
Ai, que aroma inebriante!
A amargura é duro espinho,
Que nas carnes penetrando,
Faz desesperar da vida,
Suas flores definhando.
A esperança é frouxa luz
Que nas trevas nos fulgura;
Vendo-a, ousados caminhamos;
Mas, ai, que bem pouco dura;
Quantos mais passos andados
Na agra senda desta vida,
Mais amargo é o presente,
E a saudade mais sentida.
Mas a esperança não; os anos
Fazem-lhe perder o brilho;
Caem-lhe uma a uma as folhas
Da existência pelo trilho.
A velhice nada espera,
Nada de esperança lhe dura . . .
Mas não, cansada da vida,
Tem a paz da sepultura.
Tem a morada fulgente
Da inteligência divina;
Tem as regiões sagradas,
Que eterno Sol ilumina.
Bendito sejas, meu Deus!
que nos dás na vida inteira
A filha dos céus, a esperança,
Por suave companheira.
Ela nos enxuga o pranto,
O pranto alegre e amargoso;
Não a acusemos de pérfida,
Esperar já é um gôso.
A mente, esperando concebe.
Concéção sempre iludida
Prazeres talvez entrevistos
Nas cenas duma outra vida.
Esperemos, pois companheiros
Desta fadigosa viagem!
Se a esperança é a imagem do gôso,
Adoremos essa imagem.
E cruzando este oceano
Com os olhos no porvir.
Esqueçamos no presente
Seu horroroso bramir.
E quando enfim, já cansados.
Reclinarmos nossa fronte.
Que a esperança nos revele
Mais dilatado horizonte.
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