Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

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domingo, 5 de julho de 2020

Meditações - manhã de Julho

TERRA MATER

Manhã de Julho. Estrada fora, o destacamento seguia «à vontade» debaixo da soalheira intensa. Devido ao calor, devido a essa nostalgia dos campos, que pouco a pouco os amorrinhara, os soldados iam agora calados, tristonhos e de mau humor – e só o trup-trup da marcha, desigual e muito pesado, chegava, contínuo, aos ouvidos do oficial, que à frente seguia a cavalo.

– Eh, rapazes! – chamara ele já por duas vezes. – Vocês parece que vêm a dormir?!

Não iam a dormir, coitados. Mas eles próprios só agora é que reparavam também naquela modorra, e a espantavam pondo-se a conversar, ajeitando e ajeitando-se as mochilas uns aos outros:

– Xó, burro! – diziam alguns para os companheiros. – Pára aí, que te cai a carga!

Mas daí a pouco, insensivelmente, recaíam todos no mesmo silêncio – cada qual a pensar, outra vez, nas delícias do seu «torrão»...

Até que vinha de novo a voz do alferes:

– Vocês acordam, ou não acordam?!

Como se os vissem já com os olhos do corpo, lá estavam, diante de cada um, os campos da sua aldeia; as árvores que davam sombra a esses campos; as fontes e as ribeiras que os refrescavam; as casas, as capelas, os caminhos...

– Pequena e tão pobre! Mas vá lá saber a gente porque há-de gostar assim da sua terra!

Trindade Coelho, Os Meus Amores

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