Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

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sábado, 11 de junho de 2011

Um botão de latão...

Estação Cronográfica encontrou um botão. Ele pertenceu ao fardamento de funcionário da Mina de São Domingos, concelho de Mértola.

Na face, este botão em latão ostenta a frase "Mina de São Domingos" e, no centro, um leão (?) alado, presumivelmente o emblema da exploração mineira à época - final do século XIX, início do século XX.

No verso, assina-se "E. Armfield & Co. Birmingham". Trata-se um importante fabricante inglês de botões, com produção detectada desde meados do século XVIII, como pode ser visto aqui.

A actividade mineira na região de São Domingos terá começado no período calcolítico, e continuado com maior intensidade a partir do século 8 a.C., particularmente durante o domínio romano. Na zona da mina fizeram-se diversos achados arqueológicos deste período, incluindo rodas hidráulicas então utilizadas para extracção da água.

As minas estiveram abandonadas desde então, e até meados dos século XIX. Em 1854, dois anos após o decreto do Governo da Regeneração que pôs fim ao monopólio régio sobre a exploração mineira, Ernest Deligny, director das minas de Tharsis e Calañas (Huelva), enviou Nicolau Biava para fazer prospecção nas regiões de Grândola e Mértola. No mesmo ano, Biava requeria o direito de descobridor legal das minas de São Domingos, entre outras, e começava a preparar a exploração do local, onde existia uma importante jazida de pirite. Em 1857, Deligny, Louis Descazes e Eugène Duclerc recebem a concessão provisória da mina, e criam a empresa La Sabina. A empresa começou de imediato a extracção de minério, mas logo em 1858 arrendou o local a James Mason e Francis Barry, fundadores da Mason & Barry, que dinamizou verdadeiramente a exploração.

A mina era composta por 27 poços verticais, e por uma rede de galerias e túneis rasgados na rocha em diversos níveis, entre as quais ainda se conserva a galeria romana. A exploração fixou inúmeros trabalhadores, fazendo o número de habitantes da região subir de poucas dezenas, à data da descoberta da jazida, até quase dez mil moradores nas novas aldeias erguidas no perímetro industrial. Estas aldeias, ou bairros operários, caracterizavam-se por casas térreas em banda, com fachadas caiadas, definidas por uma porta e uma janela, entre caminhos (largos) de terra batida. Os técnicos residiam em moradias com relvados à inglesa. Às habitações juntavam-se as casas das máquinas, oficinas e armazéns, uma central eléctrica (a primeira do Alentejo), instalações militares e de polícia, infrestruturas de lazer (biblioteca, teatro, campos desportivos), um hospital e respectiva farmácia, mercado, igreja e cemitério, uma estação de correio e telégrafos, duas represas, e por fim a linha de caminhos de ferro privativa, com c. 18 km., que ligava a mina ao Pomarão, o porto do Guadiana onde se carregava o minério destinado à exportação.

Durante a vida activa da mina, foram retirados 25 milhões de toneladas de cobre. Porém, ainda em finais do século XIX o negócio entrou em crise, acompanhando a caída do valor do cobre nos mercados europeus, e levando ao início da exploração a céu aberto em São Domingos. Para tal, foram removidos três milhões de metros cúbicos de terras, ao longo de 20 anos. A operação voltou a garantir capacidade competitiva à mina, que era então a maior da Europa, com extracções anuais que chegaram a alcançar mais de 430.000 toneladas de pirite.

A partir de 1920, depois da I Grande Guerra, a exploração entra em crise, e tenta-se compensar o declínio com a produção de enxofre em altos fornos, instalados em 1934. O enxofre, produzido a partir da pirite, destinava-se então essencialmente à CUF, no Barreiro. A exploração de pirite terminou em 1965, e a Mason & Barry declarou falência em 1968. A mina, encerrada em 1966, foi barbaramente saqueada por sucateiros logo após o encerramento, e ainda o é ao presente, encontrando-se em notório estado de abandono.

No ano de 1972, La Sabina comprou todos os imóveis e direitos respeitantes à Mina de São Domingos, registados em Mértola. Em 1993 foi decidido transferir a sede da sociedade para Lisboa e alterar o nome comercial para La Sabina - Sociedade Mineira e Turística S.A.

Após acordo entre o município de Mértola e La Sabina, a maior parte das casas na posse da sociedade foi vendida aos habitantes. Com estas receitas, a casa senhorial (Palácio) foi renovada, transformada num hotel e tendo anexada uma parte residencial moderna. O hotel dispõe de 31 quartos, restaurante, auditório com capacidade para 100 pessoas e um observatório astronómico amador.

Em colaboração com o município de Mértola, foi construída junto da maior das tapadas (albufeiras) adjacentes, uma praia fluvial com um pequeno anfiteatro e um café.

Para este post, Estação Cronográfica usou dados do especialista em botões, John Dunningan, do buttoncrs.com e informações online das seguintes entidades: Geocaching, Igespar e La Sabina Sociedade Mineira e Turística.

Entrámos, entretanto, em contacto com John Dunningan, para tentar saber mais sobre este botão - data de fabrico, por exemplo. Presumimos que ele tenha sido encomendado durante o consulado da Mason & Barry.

Entretanto, John Dunningan respondeu-nos:

"The backmark suggests to me that it is from the period 1873-1912, but that's it, if I had to be stricter about the date I would say probably pre 1900".


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5 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Com um botão... se faz história! JCN

João de Castro Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João de Castro Nunes disse...

Longe estou de imaginar
quanto daria um botão
que foi de Napoleão,
caso fosse a leiloar!

JCN

João de Castro Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João de Castro Nunes disse...

Há dois tipos de botão,
um da roupa, outro de rosa,
sendo enorme a distinção
para além de curiosa!

JCN