Os álamos.
Essa música
de matutina cal.
Doces vogais
de sobra e água
num verão de fulvos
lentos animais.
Calhandra matinal
do vento na areia
branca de junho.
Acidulada música
de cardos e navalhas
entre pedras desatada.
Música do fogo
à roda dos lábios.
à roda da cintura.
Fluvial.
Entre as pernas junta.
Música
das primeiras chuvas
sobre o feno.
Só aroma.
Música das janelas
por onde o silêncio
entra flor a flor.
Mar
deserto de espelhos
no labirinto dos olhos.
Repouso e regaço
onde o lume breve
de uma romã brilha.
Música, levai-me:
Onde estão as barcas?
Onde estão as ilhas?
Eugénio de Andrade (1923 - 2005)
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