os dias são
frágeis, impacientes e amargos;
os passos
miúdos dos teus dezasseis anos
perdem-se nas ruas, regressam
com restos de sol e chuva
nos sapatos,
invadem o meu domínio de areias
apagadas,
e tudo começa a ser ave
ou lábios, e quer voar.
Um rumor cresce lentamente,
oh, lentamente
não cessa de crescer,
um rumor de pálpebras
ou pétalas
sobre de terraço em terraço,
descobre um dia
de cinzas com vestígios de beijos.
Um só rumor de sangue
jovem:
dezasseis luas altas,
selvagens, inocentes e alegres,
ferozmente enternecidas;
dezasseis potros
brancos na colina sobre as águas.
Como um rio cresce, cresce um rumor;
quero eu dizer,
assim um corpo cresce, assim
as ameixoeiras bravas
do jardim,
assim as mãos,
tão cheias de alegria,
oh, tão cheias de abandono!
Um rumor de sementes,
de cabelos
ou ervas acabadas de cortar,
um irreal amanhecer de galos
cresce contigo,
na minha noite de quatro muros,
no limiar da minha boca,
onde te demoras a dizer-me adeus.
Escuto um rumor: é só silêncio.
Eugénio de Andrade (1923 - 2005)
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