DEV. – Destruíste-o. Esse homem como se não foi logo lançar num poço?
BR. – E isto em dizendo, fazendo.
DEV. – São graças naturais que Deus reparte por quem quer bem.
BR. – Não o digo por me gabar, mas quantas vezes me aconteceu não me darem somente vagar com requirimentos de cartas de amores, uns a um propósito, outros a outro?
DEV. – Quais havias por mais trabalhosas?
BR. – As primeiras.
DEV. – Como Mestre.
BR. – E assi de üas, como de outras os começos, que despois üa palavra leva a outra por üa maneira nova que ora descobrimos, que tudo se vai apurando cada vez mais.
DEV. – Ficar-te-iam os treslados, que leremos sobre mesa.
BR. – Nunca os guardo, mas lembra-me um começo, e dizia assi: «Nas ondas destas lágrimas que
me levam assi na sua corrente, não tem estes meus olhos outro Norte, per que se rejam, senão os teus.»
me levam assi na sua corrente, não tem estes meus olhos outro Norte, per que se rejam, senão os teus.»
DEV. – Ai, ai, que farei? Isso não se sofre.
BR. – Outra.
DEV. – Dará cento, como relógio mal concertado.
BR. – «Os enganos, senhores da vontade, fazem o que querem de mim, e eu não quero acabar de entender o que entendo, e fico assi como em mares encruzilhados onde a força não esforça, nem governa o governalhe.»
DEV. – Busca quem te aguarde tais pancadas, que eu não posso.
Francisco Sá de Miranda (1481 - 1558), poeta português, in Os Estrangeiros
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