[...] Apertei-lhe a mão e observei-o quando atravessou a rua com os seus passos largos, despreocupados. Quanto a mim, sendo de massa menos resistente, entrei no táxi e voltei para o hotel. Quando entrei na minha saleta, vi que eram mais de oito horas.
"Bonita hora para um senhor idoso entrar em casa" - disse eu, em tom de censura, para a dama nua (sob a redoma) que desde o ano de 1813 estava deitada em cima do relógio, em posição que sempre considerei extremamente incómoda.
Ela continuou a contemplar, num espelho de bronze, o seu rosto de bronze, e só o que o relógio dizia era "tique, tique, tique". Fui para a casa de banho e abri a torneira da água quente. Depois de ter ficado no banho até a água amornar, enxuguei-me, tomei um comprimido para dormir e, levando para a cama O Cemitério Marinho de Valéry, que por acaso estava na mesinha-de-cabeceira, li até pegar no sono.
W. Somerset Maugham, in O Fio da Navalha
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
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