terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Requiem por um Observatório

Requiem por um Observatório

Quem abre a página do Observatório Astronómico de Lisboa na Internet depara com um Aviso Legal, lacónico e hermético:

O serviço de Hora Legal assim como a Comissão Permanente da Hora (Dec. Lei nº 279/79, de 9 de Agosto) estão em vias de serem transferidos para uma outra entidade, face a alterações legislativas e institucionais que, desde 2019, inviabilizam a sua prossecução nos moldes definidos no DL 279/79. A configuração final deste serviço e da Comissão, deverão ser definidos na sequência da aprovação de um Decreto-Lei, em tramitação pelos Ministérios da Economia e Mar e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Os especialistas da FCUL, sem ligação institucional com o OAL, e exclusivamente a título de especialistas, procuram satisfazer, na medida das possibilidades, os pedidos que têm sido veiculados por terceiros.

Descodificando - sabemos que a emissão da Hora Legal, historicamente responsabilidade do Observatório, vai passar para o Instituto Português da Qualidade, entidade que, historicamente, é o depositário da unidade de tempo Segundo Padrão.

O imbróglio começou quando o Observatório deixou de estar sob a direcção da Faculdade de Ciências de Lisboa e passou para a tutela do Museu Nacional de História Natural e da Ciência. Uma decisão tomada quando houve a fusão da Universidade Clássica com a Técnica, em 2013. O primeiro, herdou o espólio museológico do observatório, enquanto quadros da Faculdade de Ciências foram preenchendo o limbo, com a emissão da Hora Legal. Em princípio, este ano, 2023, essa situação ficará, finalmente, clarificada.

Ou não... para além das entidades envolvidas (Ministérios da Economia e Mar e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), saltou para a liça uma outra entidade - o Gabinete Nacional de Segurança que, de tempo, dizemos nós, deve perceber pouco... De qualquer forma, especialistas da Faculdade de Ciências têm estado a preparar o texto do Decreto-Lei que vai modificar o status quo do Tempo no país há quase século e meio.

Enquanto a futura legislação vai e vem, por entre as brumas da burocracia, Portugal continua a ser um país que trata atavicamente mal o Tempo - não tem hoje nenhuma entidade emissora oficial (com a estranha situação de vazio criada com a mudança de tutela do Observatório Astronómico de Lisboa) e não tem um único relógio público que emita o tempo oficial.

Após 145 anos nesse papel, o Observatório Astronómico da Ajuda deixa de ser o emissor da Hora Legal. O site que, durante anos, foi o cartão de visita do OAL, também vai desaparecer. O edifício, esse, está em adiantado estado de degradação. Um quadro que espelha bem o chamado “tempo português”.

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