sexta-feira, 2 de julho de 2021

Meditações - Soa como um relógio no vazio

Sibilas no interior dos antros hirtos

Totalmente sem amor e cegas.

Alimentando o vazio como um fogo

Enquanto a sombra dissolve a noite e o dia

Na mesma luz de horror desencarnada.

 

Trazer para fora o monstruoso orvalho

Das noites interiores, o suor

Das forças amarradas a si mesmas

Quando as palavras batem contra os muros

Em grandes voos cegos de aves presas

E agudamente o horror de ter as asas

Soa como um relógio no vazio.


Sophia de Mello Breyner, Obra Poética I

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