sábado, 12 de dezembro de 2020

Coisas do Ephemera - contra o tabaco. Mas quem eram os paivantes?


Nos Núcleos do Tempo e da Gastronomia do Arquivo Ephemera existem as 4 primeiras edições (1913 a 1916) do Almanaque Vegetariano Ilustrado de Portugal e Brasil, dirigido pelo médico frugívoro Amílcar de Sousa.

No primeiro número, é publicado um poema anti-tabágico, assinado em Cabanas [de Tavira?] por um tal Ignotus. Nele se fala dos que fumam charuto, dos que preferem superior ou dos que consomem paivante.

Mas, afinal, o que era o paivante? Nas pesquisas, fomos dar de frente com Paiva Couceiro e com as suas incursões a partir da Galiza contra o novel regime republicano.

O paivante, vocábulo claramente derivado de um dos apelidos do caudilho monárquivo, era um cigarro com filtro. Os oficiais às ordens do chefe provinham de uma certa aristocracia portuguesa, que já fumava cigarros com filtro, meio século antes dos cigarros com filtro começarem a ser produzidos em massa. Um luxo, portanto. Com os aristocratas entretantro exilados (os “pinocas”) e escassos efectivos e meios militares, Paica Couceiro conduziu as incursões monárquicas. Logo em 1911 e depois no ano seguinte, tendo chegado a proclamar, por alguns dias, a chamada Monarquia do Norte. O próprio D. Manuel II, rei deposto a 5 de Outubro de 1910, e desde então exilado em Londres, demarcou-se das aventuras militares de Paiva Couceiro. Depois da derrota em Chaves, os paivantes passaram à História, onde foram escassos e breves protagonistas... 

De qualquer forma, Paiva Couceiro, herói das campanhas de África, ficou no imaginário colectivo dos portugueses. Até hoje.

A imprensa (republicana) da época foi referindo, com alguma ansiedade, as suas incursões. Tomamos aqui uma amostra da revista satírica O Zé, de Silva e Sousa e Estevão de Carvalho, com caricaturas do primeiro, e que se publicou entre 1910 e 1915. (Imagens retiradas da Hemeroteca da Câmara Municipal de Lisboa)

O Zé de 4 de Julho de 1911. Na capa, Paiva Couceiro pede auxílio financeiro à Igreja

Em cima e em baixo, n'O Zé de 25 de Julho de 1911, Paiva Couceiro "montado" na Igreja e a "sair de cena"


N'O Zé de 8 de Agosto de 1911. Paiva Couceiro pede ajuda ao Papa. Em baixo, no mesmo número, uma reportagem fictícia "em terra de conspiradores", a Galiza.


Fumando paivantes... O Zé de 22 de Agosto de 1911

O Zé, na edição de 29 de Agosto de 1911, escreve que "os paivantes, em risco de apanharem para o seu tabaco, davam raia, na raia".

O Zé de 12 de Setembro de 1912: "Está-se à espera do Paiva Couceiro [...] E anda-se nesta pouca vergonha há meses!"

"Vai tomando foros de uma ignóbil chantagem a constante contra-dança do vai entrar - não entra do regimento de bandoleiros que nos dizem pretender tomar o país e restaurar o quê?". N'O Zé de 12 de Setembro de 1912.

"Ai, vizinha, que agora é que ele entra!". Mais uma referência a Paiva Couceiro na edição de 12 de Setembro de 1912. Esse número contém ainda uma caricatura de Silva e Sousa, falando de um hipotético ataque por balão por parte das forças do monárquico revoltoso.

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