sábado, 5 de setembro de 2020

Tempo, Relógio, Cronómetro - uma crónica radiofónica em 1962 e como ela nos leva ao Seiko Astron, o primeiro relógio de pulso de quartzo


Enciclopédia do Desportista - Tempo, Relógio, Cronómetro. Transcrição dactilografada da crónica lida no domingo, 17 de Junho de 1962 aos microfones da Rádio Peninsular. Da autoria de Mário Bravo e lida por ele e por Maria Tereza. Da responsabilidade das Organizações José Rocha.


Mário Bravo era um dos pseudónimos do jornalista, escritor e militante comunista António Pinho. O seu espólio foi recentemente entregue pela família ao Arquivo Ephemera (ver aqui).

Entre esse espólio encontram-se dois volumes intitulados Enciclopédia do Desportista (artigos, dactiloscritos, manuscritos, recortes), um projecto para um livro sobre esse tema, e que nunca chegou a concretizar-se. O dossier está actualmente em análise no Núcleo Ephemera Sport. Dada a temática destas folhas - Cronometragem Desportiva - fomos alertados para elas, tratando-as assim aqui e agora (somos os responsáveis pelo Núcleo do Tempo do Ephemera).

A Rádio Peninsular fazia parte dos Emissores Associados de Lisboa - com a Rádio Graça, o Clube Radiofónico de Portugal e a Rádio Voz de Lisboa.

O produtor José Rocha trabalhou também na Emissora Nacional, onde tinha o programa Vozes de Portugal. Na região de Setúbal, a expressão "Organizações José Rocha", justa ou injustamente, era e ainda é, para gerações mais velhas, sinónimo de "algo que corre mal" (lido no blogue Troineiro).


Num dos recortes do projecto para a Enciclopédia do Desportista de António Pinho há ainda outra referência à Cronometria Desportiva.

Trata-se de um artigo assinado por Alberto Freitas, enviado do Diário de Notícias aos Jogos Olímpicos de Tóquio de 1964.

Alberto Freitas, jornalista desportivo, esteve na génese do CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto, fundado em 1966, ano em que ele foi enviado do DN ao Mundial de Futebol de Inglaterra e onde Portugal conseguiu um histórico 3º lugar, com os célebres Magriços.

Na notícia refere-se que o "timekeeping" do evento ficou a cargo da Matsushita (Panasonic). Mas, segundo os dados oficiais de que dispomos, a cronometragem oficial de Tóquio 66 foi da Seiko. (Poderá ter havido cooperação de pesquisa e desenvolvimento das duas empresas nipónicas para estes Jogos Olímpicos?)

Desde 1932 (Los Angeles) que a cronometragem oficial dos Jogos Olímpicos era dominada por marcas suíças (Omega e Longines, ver aqui).

Com a realização dos Jogos em Tóquio, o Japão conseguiu "nacionalizar" a tarefa, entregando-a à Seiko (ver aqui). Mas a marca japonesa não conseguiu repetir a missão nos Jogos Olímpicos 2020 (adiados para 2021 devido à pandemia Covid-19), pois é a Omega o timekeeper do evento.

Em 1964, a Seiko revolucionou a medição e registo de tempos nas mais diversas modalidades: os Jogos Olímpicos de Tóquio foram os primeiros com um sistema inteiramente automático e electrónico em termos de Cronometragem.

Foi nesses Jogos que apareceu a pistola de tiro de partida com um relógio de quartzo ou um aparelho de photo finish que dava em simultâneo imagens e tempos à chegada. A pistola com relógio de quartzo usou uma tecnologia de miniaturização que foi depois aplicada no relógio de pulso Seiko Astron, lançado no final de 1969 e que iria mudar radicalemnte, a nível mundial, a indústria da relojoaria (ver aqui).

Em baixo, alguns dos dispositivos da Seiko usados nos Jogos Olímpicos de Tóquio de 1964 (fotos Seiko)






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