Que tristeza aqui lavra na Tebaida!
Um dia de comadres, sem filhoses!
Dias de Entrudo, conchos e saturnos,
Sem pós, sem raboleva!
Quem me diz que a nação dos tais franceses
Amiga é da galhofa e de brinquedo,
Mente com quantos dentes tem na boca,
Sem maldita a vergonha.
Viva o meu Portugal! Viva a laranja,
Que derriba o chapéu; viva a siringa,
Que ensopa o passageiro; viva a bola
De barro, pespegada
Na saresma do ginja, ou carapuça
Da farfante saloia cavaleira;
Viva a folha, rascando pela esquina,
Que assusta a velha zorra!
Que splêndido, na mesa, não blasona
O encostelado lombo e o arroz doce,
E as morcelas monjais, acompanhadas
Coas louras trouxas de ovos!
Oh feliz Portugal! Que saudades
Me não dás, nestes ermos da Tebaida!
Lusas meninas, peralvilhos lusos,
Todos luzem talco,
Como brilham, com visos multicolores!
Como se dão as mãos, cos pés se tocam!
E que abraços, que beijos se não furtam
Nessa indulgente quadra!
E eu vivo só e os dias passam, passam,
Sem comércio de amigos aprazíveis,
Sem conchêgo de portuguesas damas,
Mimo e primor da Europa!
Vertei, olhos, vertei cansado pranto,
Longe de Portugal, que tanto prezo.
Dai às Fúrias do Tártaro medonho
Os infames obreiros
Da calúnia, os ruins inqusidores,
E o parvo rei, que deu de vós denúncia,
Que vos pôs em demérito desterro,
Inda há mais de seis lustro.
Filinto Elísio (exilado em França)
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