sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Meditações - tempo e memória

[...] É impossível parar a erosão. Há séculos suficientes para gastar a memória de tudo o que nos rodeia. Aquilo que aqui está, à frente do horizonte, parece tudo o que existe; podemos até chegar a acreditar que é o próprio horizonte, mas virá o tempo, já aqui está.

Não faz sentido acreditar que o esquecimento retira valor a estarmos aqui. Não deixamos de ter existido por sermos esquecidos. Fomos antecedidos por milhões de pessoas que, aparentemente, toda a gente esqueceu: pessoas tão reais como nós, feitas de uma consciência tão real como esta, rodeadas por uma realidade tão concreta como estar aqui.

Existe um tempo que é só nosso: o meu tempo, o teu tempo. É individual, único e está a contar neste preciso momento. A forma como o medimos, modifica-o porque transforma a perceção que temos dele. À luz dos dias que se sucedem, as horas passam demasiado depressa, tentamos agarrá-las e fogem-nos sempre. Mas segundo as formações rochosas da Capadócia, segundo o tamanho do universo, somos um pequeno brilho, um reflexo de um reflexo, um eco de um eco. E essa verdade, se a soubermos aproveitar, dá-nos paz.

José Luís Peixoto

1 comentário:


  1. Cada pessoa que existe
    o seu tempo tem de vida
    que num par de anos consiste
    para logo de seguida
    ingressar na eternidade,
    reservada à humanidade!

    JCN

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