sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Uma viagem à Suíça há 71 anos*

Dia 6 – domingo

Empreendi pela segunda vez a viagem, mas logo na estação nova tive a decepção de não me venderem o bilhete para Hendaya, perdi o comboio, tomei um automóvel para a E. V. e aí mesmo não consegui bilhete para França. Telefonámos para a Pampilhosa e quando cheguei tinha o meu bilhete em ordem.

Viemos magnificamente instalados em primeira classe até Vilar Formoso, atravessámos a fronteira por Fuentes de Oñoro.

Tive de declarar o dinheiro que levava antes além das formalidades do estilo. A estação não tem a beleza nem a importância e limpeza de Vilar Formoso.

Outra surpresa me esperava no comboio, a carruagem tinha os assentos forrados com serapilheira, lâmpadas a petróleo, janelas sem cortinas, vidros sujos. Tudo imundície (em 2ª classe) na retrete não há água, nem sabão, nem toalha; noutra carruagem contígua também de 2ª faltavam vidros nas janelas.

Passámos a estação de Ciudad Rodrigo, a gare estava cheia de grupos de raparigas novas e bonitas. Adiante logo na estação de Fuente de S. Esteban também achei graça o grande número de pessoas que estavam na gare sentados [...] bebendo refrescos e ouvindo rádio.

Ao que parece nestas duas terras o maior prazer desta gente é o ver parar os comboios.

A vista do comboio de Ciudad Rodrigo é interessante do comboio.

Cheguei a Salamanca de noite e tive pena por não poder ver a cidade. Tivemos aqui uma grande espera. A estação é grandiosa, bem como a gare, mas tudo respira imundície, entrei no restaurante e a impressão não melhorou, pelo contrário: as mesas sem toalhas, o pão negro e entrei num lavatório para lavar as mãos, estava a bacia numa imundície que fazia vomitar as tripas. Sabão e toalha não haviam. Só vi uma dependência limpa e moderna: o gabinete do chefe ou coisa parecida. Depois de uma grande espera pusemo-nos de novo a caminho e passámos Valladolid, Burgos e Miranda. Desde Fuentes a paisagem é monótona e triste, pouca ou nenhuma arborização, por fim começam a aparecer maiores elevações e a paisagem começa a mudar.

Tive por companheiros até aqui um falangista, por sinal muito amável, e um casal que ia para San Sebastian. Tomei conhecimento com um grupo de franceses que já vinham de Portugal e que constituíam a missão católica francesa.

Começámos por ir [...] aos poucos, [...] todos muito amáveis.

Chegamos a Victoria, numa bela estação, melhor que as anteriores e um pouco mais limpa. Amanheceu um pouco antes e então já pude ver que possui belos edifícios e sobretudo muitas casas com galerias todas forradas de vidro, tanto aqui como em Miranda, a roupa pendurada de várias cores dá um aspecto festivo interessante. Ao contrário de toda a Castela Velha, a vegetação é exuberante tornando a paisagem mais atraente.

Mais adiante uma fábrica de cimento. Entrámos nas Vacongadas. [...] aqui começa o comboio eléctrico que deve atravessar os Pirinéus. Começam-se a divisar as grandes elevações e daqui por diante até quase a Irun a paisagem excede tudo o que tenho visto até agora: montanhas que furam as nuvens, a vegetação é além [...] e dum verde que encanta, são inúmeros os túneis que atravessamos, alguns enormes, contudo o comboio marcha sempre a grande velocidade.

As intermitências [...]

Aqui é uma aldeia perdida na montanha que parece um presépio, adiante montanhas que furam as nuvens, centrais eléctricas, a paisagem de momento a momento.

*ver contextualização aqui.

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