segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Meditações - morre-se devagar

Dissonâncias

Pedra a pedra
a casa vai regressar.
Já nos ombros se sente o ardor
da sua navegação.

Vai regressar
o silêncio com suas harpas.
As harpas com as abelhas.

No verão morre-se
tão devagar à sombra dos ulmeiros!

Direi então:
Um amigo
é o lugar da terra
onde as maçãs brancas são mais doces.

Ou talvez diga:
O outono amadurece nos espelhos.
Já nos meus ombros sinto
a respiração das suas águas.
Não há regresso: tudo é labirinto.

às cigarras que tornam o verão mais claro
prometo as vogais de uma dália de água,

ao silêncio que me espera a cada esquina
ofereço o ramo ardente dos meus olhos.

Eugénio de Andrade (1923 - 2005)

Sem comentários:

Enviar um comentário