sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Meditações - lábios de Verão

Sobre outros lábios

Eu crescia para o verão.
Para a água
antiquíssima da cal
crescia violento e nu.

Podiam ver-me crescer
rente ao vento,
podiam ver-me em flor,
exasperado e puro.

À beira do silêncio,
eu crescia para o ardor
calcinado dos cardos
e da sede.

Morre-se agora
entre contínuas chuvas,
os lábios só lembrados
de um verão sobre outros lábios.

Eugénio de Andrade (1923 - 2005)

Sem comentários:

Enviar um comentário