sábado, 20 de julho de 2024

Coisas do Ephemera - Uma carta dos relógios Omega e a história do time keeping olímpico

Coisas do Ephemera. No início de 1979, os agentes Omega em todo o mundo receberam um envelope pessoal, contendo uma proposta de aquisição do kit de montra para promover o facto de a marca suíça ser o Cronometrista Oficial dos 22ºs Jogos Olímpicos de Moscovo, que ocorreriam de 19 de Julho a 3 de Agosto do ano seguinte.

Em Portugal, foi a empresa Olindo Moura Lda. a contactada, dado que era desde há décadas a importadora da Omega para o país. Tinha, tal como a restante rede de distribuição, até 15 de Setembro de 1979 para encomendar o kit.

O envelope, que está no Núcleo do Tempo do maior arquivo privado do país, faz parte do vasto espólio da Olindo Moura Lda., com raízes que remontam a 1921, e que acaba de ser doado por António Luís Moura, da terceira geração da empresa.

Os Jogos Olímpicos de Moscovo de 1980 decorreram sob um ambiente de grande controvérsia. Foram os primeiros realizados num país do chamado Bloco de Leste e os primeiros num país comunista (os únicos, até às Olimpíadas de 2008, em Pequim).

Em Moscovo, estiveram representadas 80 nações, o número mais baixo desde 1956. Liderados pelos Estados Unidos (sob a Administração Jimmy Carter), 66 países boicotaram os Jogos, numa atitude provocada pela invasão do Afeganistão pela União Soviética (consulado Leonid Brejnev). A delegação portuguesa esteve presente em Moscovo, mas desfilou com a bandeira do Comité Olímpico, em vez de o fazer com a bandeira nacional. Em retaliação, a União Soviética boicotou os Jogos Olímpicos seguintes, de Los Angeles, em 1984.

A Omega é a marca de relógios com mais presenças nos Jogos Olímpicos na qualidade de Cronometrista Oficial. Tem esse estatuto em Paris 2024 e assinou um contrato com o Comité Olímpico Internacional para mais dez anos.

A primeira vez que foi cronometrista olímpica foi em 1932, nos jogos Olímpicos de Los Angeles. Até então, e desde o início das Olimpíadas da era moderna, em 1896, várias foram as marcas de relógios que estiveram associadas aos Jogos, nomeadamente Longines e Heuer (hoje TAG Heuer).

A Seiko foi Cronometrista Oficial nos Jogos de Tóquio, em 1964. A Longines regressou a esse estatuto em Munique 1972. A partir dos Jogos de Montreal, em 1976, uma empresa suíça, a Swiss Timing, fundada em 1972, ganhou o concurso para o time keeping olímpico. A Swiss Timing, líder mundial de cronometria desportiva, viria a ser adquirida pelo Swatch Group (sob a liderança de Nicolas Hayek), de que a Longines, a Omega e a Swatch fazem parte.

Foi a Swiss Timing que ganhou a cronometragem de Moscovo 1980 e, por questões de marketing, a marca que apareceu nesse papel foi a Omega. Nos Jogos de Barcelona, em 1984, a Seiko conseguiu interromper o reinado Omega.

Em 2001, o Comité Olímpico Internacional assinou, pela primeira vez, um contrato de longo prazo para a cronometragem incluindo os Jogos de Verão, de Inverno e os Paraolímpicos. Deixou de haver concurso para cada evento e o Swatch Group celebrou esse e os contratos que se seguiram, escolhendo para cada um dos jogos uma marca do seu portefólio, mas quase sempre Omega. Além do time keeping, o Swatch Group passou a ter a responsabilidade do processamento de dados, ou data handling (informação pública no interior dos estádios, captação tv) e transmissão dos resultados para o Commentator Info System (CIS).

Há 20 anos, estivemos nos Jogos Olímpicos de Atenas, a convite da Swatch Portugal. É que, em 2004, e por questões de estratégia de marketing, o estatuto de cronometrista oficial, por decisão do Swatch Group, foi dado à Swatch, embora o know-how continue a ser, como sempre, da Swiss Timing.








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