quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Meditações - Na areia que rolou da ampulheta dos annos

Não sei se era visão, filha do Mêdo, 

Se verdadeira apparição nocturna; 

Mas da sombra profunda do arvoredo, 

Que o luar tornava muito mais soturna, 


Vinham surgindo mysteriosamente 

Phantasmas espectraes que eu distinguia 

Através do sudário transparente 

Como o primeiro alvorecer do dia... 


E por deante de mim todos passavam, 

E olhavam-me e choravam... 

De mágoa ou compaixão, não sei dizê-lo; 

Mas tudo o que aos meus olhos evocavam 

Parecia-me um longo pesadelo... 


Eram os Sonhos, as Chimeras mortas 

Na minha morta Phantasia, 

Que do vasto sepulcro abrindo as portas, 

Passavam nessa funebre theoria... 


Projectos, Intenções, Ideias, Planos, 

Illusões d'um passado esquecido e desfeito, 

Na areia que rolou da ampulheta dos annos 

E que um vento de morte espalhou no meu peito.


António Joaquim de Castro Feijó - Sol de Inverno: ultimos versos : 1915

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