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Editorial
I know not what tomorrow will bring*
No editorial de Julho pedimos ao Chat GPT que falasse da Inteligência Artificial e da sua influência no sector do Luxo. O texto que então publicámos foi a resposta ipsis verbis que esse programa nos deu. Acima de tudo, o luxo será cada vez mais personalizado, vaticina a IA.
Não foi coisa que nós próprios já não tivéssemos dito – no
editorial de Junho. Adivinhar o futuro, com a ajuda da IA, será mais fácil?
Dias antes da queda do Muro de Berlim e da implosão do
Império Soviético poucos ou mesmo nenhum dos grandes especialistas na Guerra
Fria ousaria vaticinar tal coisa.
Aquando do movimento de contestação na China que desembocou
nos trágicos acontecimentos do 4 de Junho de 1989, centrados na Praça da Paz
Celestial, em Beijing, os especialistas vaticinaram, na generalidade, que o
Império do Meio iria fechar-se mais uma vez ao mundo exterior e que o mais
populoso país do mundo estaria perdido por décadas para o convívio entre as
nações. O que aconteceu foi exactamente o contrário – a China abriu-se como
nunca ao relacionamento económico com o estrangeiro, mesmo que politicamente a
ditadura do Partido Comunista permaneça e se tenha mesmo fortalecido.
Tudo isto para recordar que, há uns 20 anos, os grandes
especialistas do marketing no sector do luxo garantiam que as vendas online e
as abordagens digitais iriam funcionar para as marcas de consumo maciço, mas
nunca para a topo de gama, para o luxo. Ainda recordamos as hesitações de
manufacturas de Alta Relojoaria em ter ou não sites próprios, onde nem sequer
vendessem, mas explicassem pelo menos quem eram e quais as novidades em termos
de produto. Hoje, quem não está no digital não existe. Tenha acabado de
aparecer no mercado, ou seja orgulhoso depositário de uma história com séculos.
A IA veio para ficar. Tem memória infalível e sabe todos os
gostos e hábitos de cada consumidor, mediante o rasto que ele vai deixando no
mundo virtual – a que dia da semana ou mesmo hora costuma comprar mais, se
prefere relógios clássicos ou desportivos face aos filmes que tem visto ultimamente.
O “conhece-te a ti próprio” deixará de fazer sentido, face ao assistente
pessoal que a IA colocará à disposição de cada um de nós. E que nos conhece
muito melhor do que nós próprios. I know not what tomorrow will bring* But AI
knows…
*”Não sei o que o amanhã trará” - Último escrito de Fernando Pessoa, a 30 de Novembro de 1935, antes de morrer no Hospital de São Luís dos Franceses, em Lisboa, de uma crise hepática.
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