Saí fechando a porta, ouvindo os tiquetaques todos. Olhei para trás, para a vitrine. Ele me observava detrás da divisória. Havia uns doze relógios na vitrine, marcando doze horas diferentes, cada um deles com a mesma convicção determinada e contraditória que o meu manifestava, mesmo sem ponteiros. Um contradizendo o outro. Eu ouvia o meu, ainda a tiquetaquear no meu bolso, muito embora ninguém o visse, muito embora mesmo se o vissem ele não poderia dizer nada a ninguém.
E assim eu disse a mim mesmo para escolher aquele. Porque o
pai disse que os relógios matam o tempo. Ele disse o tempo morre sempre que é
medido em estalidos por pequenas engrenagens, é só quando o relógio para que
que o tempo vive. Os ponteiros estavam estendidos, desviando-se um pouco da
horizontal, formando um leve ângulo, como uma gaivota planando no vento.
William Faulkner, em O Som e a Fúria
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