terça-feira, 23 de maio de 2023

Meditações - relógio morre

Relógio, morre —

Momentos vão.

Nada já ocorre

Ao coração

Senão, senão...

Bem que perdi,

Mal que deixei,

Nada aqui

Montes sem lei

Onde estarei...

Ninguém comigo!

Desejo ou tenho?

Sou o inimigo —

De onde é que venho?

O que é que estranho?

 

1-3-1930

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).  - 126.

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