terça-feira, 30 de maio de 2023

Meditações - A hora no bolso do colete é furtiva

O relógio

Nenhum igual àquele.

A hora no bolso do colete é furtiva,

a hora na parede da sala é calma,

a hora na incidência da luz é silenciosa.

 

Mas a hora no relógio da Matriz é grave

como a consciência.

 

E repete. Repete.

 

Impossível dormir, se não a escuto.

Ficar acordado, sem sua batida.

Existir, se ela emudece.

 

Cada hora é fixada no ar, na alma,

continua sonhando na surdez.

Onde não há mais ninguém, ela chega e avisa

varando o pedregal da noite.

 

Som para ser ouvido no longilonge

do tempo da vida.

 

Imenso

no pulso

este relógio vai comigo.


Carlos Drummond de Andrade

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