terça-feira, 15 de junho de 2021

Meditações - Triste o Céu, escuro o dia, o Sol queixoso

Em quanto solto ao Sol brando ar movia

O ouro, que Amor de sua mão fia, e tece.

D'amorosos espíritos o ar se enchia,

De que amor doce em toda a parte cresce. 

 

Um lhe dava o nó crespo, outro tecia

Laços, em que toda alma livre empece,

Outro o soltava ao vento, e parecia

Descer então o Sol mais do que desce. 

 

Namorava-se o claro Sol da terra,

Ia crescendo o dia mais fermoso,

Minh'alma de si mesma estava fora.

 

Mas recolhendo o Amor, eis que se cerra

Triste o Céu, escuro o dia, o Sol queixoso,

E mính'alma dali sempre em vão chora.


António Ferreira

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