Já aqui fizemos referência à viagem que, de combóio, realizámos de Beijing a Lisboa, há exactamente 30 anos. Por esta altura, e sempre no combóio chinês da rota do Trans-Siberiano, estávamos a chegar a Moscovo, depois de atravessarmos o Norte da China, a República da Mongólia, o sul da Sibéria, na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS. Na foto de cima, aspecto da carruagem-restaurante.
Há uns anos, recordámos para a revista T, da TMN, essa viagem:
Caviar e champanhe da
Crimeia
Depois de alguns anos a viver em Beijing, na hora do regresso a Portugal, no final de 1990, a minha mulher e eu decidimos que seria “a viagem da vida”.
Partimos a 30 de Outubro. Nesse tempo, havia três comboios –
o mongol, o russo e o chinês – e recomendaram-nos o chinês como sendo o melhor.
Em primeira classe, com um apartamento com cama para duas pessoas e casa de
banho privativa, que nunca mudou, até Moscovo.
O que mudava, além da máquina, era a carruagem-restaurante. Depois de um dia “à chinesa”, seguiu-se a entrada na Mongólia e, logo, um dia “à mongol”. Foi o pior de todos. Chegámos à fronteira com a União Soviética na madrugada do terceiro dia e entroncámos aí com o Trans-Siberiano. A carruagem-restaurante russa recebeu-nos nesse dia para o pequeno-almoço – só havia pão e iogurte (de excelente qualidade), servidos por uma russa enorme, com ar de sargento do KGB…
O micro-cosmos no Trans-Siberiano é muito peculiar – gente
de todas as nações e de todas as idades, com todos os motivos para estarem ali.
O estudante norte-americano ou australiano no tradicional
ano sabático, antes de entrar para a Universidade, a fazer apontamentos no seu
Moleskine; a velha inglesa, seca e alta, de chapéu, que viaja sozinha, apesar
dos seus 80 anos, e que não dispensa a água quente para o chá; um cantor de
ópera francês, em viagem de núpcias com o seu companheiro…
Desde o primeiro dia fizemos um contacto mais estreito com
estas personagens – passámos a tomar, na semana que nos levou até Moscovo, as
quatro refeições juntos.
Tivemos muita sorte. O cantor de ópera começou a flirtar a
russa, esta quebrou o gelo à segunda ou terceira investida, corava de cada vez
que dizia “merci, messieur”, numa troca de olhares cúmplices.
Com dólares, passámos a ter acesso a caviar, a manteiga, a
carnes frias. Até a champanhe da Crimeia.
Cá fora, a paisagem siberiana de um Inverno “a la Dr.
Jivago”, com centenas de quilómetros de neve imaculada pontilhados de meia em
meia hora por casas de madeira, isoladas, fumo a sair da chaminé.
Estávamos nas margens do lago Baikal, a maior reserva de
água doce do mundo. O Trans-Siberiano levou três dias e três noites a passá-lo.
Tomei pela primeira vez contacto com um povo de que nunca tinha ouvido falar,
os Buriates.
Chegámos a Moscovo no dia da Revolução de Outubro (que foi
em Novembro, dado que os russos se guiavam ainda em 1917 pelo calendário
Juliano). Tirámos fotografias junto a carros que transportavam mísseis inter-continentais
– não chegávamos a metade da altura do rodado, o chão tremia, os motores não
eram desligados, porque podiam não voltar a pegar…
Estávamos na Praça Vermelha aquando do desfile, e quando da
multidão foram disparados tiros contra Mikhail Gorbachev, na tribuna. Era o
princípio do fim da perestroika, da glaznost e… da União Soviética. Mas isso
são contas de outro rosário.
O regresso a Lisboa continuou de comboio – Moscovo-Budapeste; Budapeste-Paris (Expresso do Oriente, mas para Ocidente); Sud-Express até Santa Apolónia. Talvez um dia volte a fazer o Trans-Siberiano, para comparar…
O último visto de residente na China, (tipo Z). Chegados em 1988 a Beijing, deixámos a capital da República Popular da China no final de 1990. Temos regressado lá várias vezes - a cidade da década de 90 do século passado não tem nada a ver com a de hoje.
Em cima, visto da Checoslováquia, país já desaparecido, e que deu lugar à Repúblics Checa e à Eslováquia. Em baixo, visto da República Magiar, Hungria.
Em cima, visto da República da Mongólia. Os nacionalistas chineses, em Taiwan, continuam a não reconhecer este país, incluindo o território numa Grande Mongólia chinesa, juntando-o à chamada Mongólia Interior, região adjacente na República Popular da China.
Em cima e em baixo, retratos feitos por um académico da Sociedade de Belas Artes de Moscovo, durante a estadia na então capital soviética.
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ResponderEliminarDeixou aqui um tutorial para criar a «newsletter»:
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P.S.: Foi o mais simples que encontrei.