[...] Era então noite: rápidos se esvaem
Em nossos doces climas os momentos,
Que entre as trevas e a luz vacilam curtos.
A natureza, pródiga em beldades
Por tão risonhas terras, lhe há negado
A mágica ilusão que os véus estende
Nessa hora de saudosos pensamentos
Sobre os campos boreais: — hora tão triste,
Mas de tal suavidade melancólica!
— Não te hão formado o coração no peito
As maternais entranhas, se não ouves,
Nessa hora misteriosa do crepúsculo,
Uma voz que te diz: Estes momentos
Consagrou natureza a doces mágoas.
O amigo ausente, a solitária amante,
O pai longe, o filhinho em terra estranha,
Imagens são que do vapor das terras
Amigas fadas no crepusc’lo formam.
E ante os olhos volteiam d’alma absorta
N’hora sagrada ao génio da saudade. [...]
Luís Vaz de Camões
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