TERRA MATER
Manhã de Julho.
Estrada fora, o destacamento seguia «à
vontade» debaixo da soalheira intensa. Devido ao
calor, devido a essa nostalgia dos campos, que
pouco a pouco os amorrinhara, os soldados iam
agora calados, tristonhos e de mau humor – e só o
trup-trup da marcha, desigual e muito pesado,
chegava, contínuo, aos ouvidos do oficial, que à
frente seguia a cavalo.
– Eh, rapazes! – chamara ele já por duas
vezes. – Vocês parece que vêm a dormir?!
Não iam a dormir, coitados. Mas eles
próprios só agora é que reparavam também naquela
modorra, e a espantavam pondo-se a conversar,
ajeitando e ajeitando-se as mochilas uns aos outros:
– Xó, burro! – diziam alguns para os
companheiros. – Pára aí, que te cai a carga!
Mas daí a pouco, insensivelmente, recaíam
todos no mesmo silêncio – cada qual a pensar,
outra vez, nas delícias do seu «torrão»...
Até que vinha de novo a voz do alferes:
– Vocês acordam, ou não acordam?!
Como se os vissem já com os olhos do corpo,
lá estavam, diante de cada um, os campos da sua
aldeia; as árvores que davam sombra a esses
campos; as fontes e as ribeiras que os refrescavam;
as casas, as capelas, os caminhos...
– Pequena e tão pobre! Mas vá lá saber a
gente porque há-de gostar assim da sua terra!
Trindade Coelho, Os Meus Amores
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