A rainha, sendo eminentemente tolerante com minha deficiência ao me expressar, ficou, contudo, supresa com a minha inteligência e o bom senso de um animal tão pequenino. Ela pegou-me em suas próprias mãos, e me levou diante do rei, que então havia se retirado para o seu gabinete. Sua majestade, um príncipe de muita importância e de fisionomia austera, não tendo observado minhas formas à primeira vista, perguntou à rainha de maneira fria “desde quando ela se tornara apaixonada por um SPLACNUCK?” pois era assim que parecia que eu fosse para ele, assim que encostei o meu peito na mão direita de sua majestade.
Mas esta princesa, que tinha um trato infinito de sabedoria e bom humor, me colocou suavemente de pé sobre uma escrivaninha, e ordenou para que eu fizesse para a sua majestade um relato de minha pessoa, o que fiz em poucas palavras: e Glumdalclitch, que esperava à porta do gabinete, e que não podia suportar ficar longe de mim, entrou, e confirmou tudo que tinha acontecido desde que cheguei à casa do pai dela.
O rei, embora fosse uma pessoa tão erudita quanto qualquer um de seus domínios, tinha sido educado no campo da filosofia, e particularmente da matemática, todavia, quando ele observou melhor as minhas formas, e viu que eu caminhava ereto, antes que eu começasse a falar, imaginou que eu fosse uma peça de relojoaria (que aliás naquele país chegou a uma perfeição muito grande) criada por algum artista engenhoso. Mas quando ele ouviu a minha voz, e percebeu que o que eu transmitia era regular e racional, ele não conseguiu esconder o seu assombro.
Jonathan Swift, in Viagens de Gulliver
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