Beija-me ! Assim, assim. . . Que languido alvoroço !
Milagre ! Oiço florir meus tristes desenganos.
Beija-me ! Aos beijos teus, estranho-me, remoço,
Julgo ter outra vez os meus vinte e dois anos!
Choras ? De novo és minha ! . . . Oriental thesoiro
Se oífrece ao rei sem throno, enfermo e mendicante!
Socéga, meu amor ; limpa os teus olhos d'oiro,
Senta-te aqui um pouco, e olha aquelle quadrante.
Elle te ensinará, meu encanto, a verdade,
Que todo o orgulho é vão, vãs todas as querelas,
Que o amor deve sempre ir p'la mão da caridade,
Que as horas sombras são, e a vida a sombra d'ellas . . .
Olha o quadrante bem : d'um cinzel inspirado
Finos lavor's expõe na tarja que o circumda,
Emquanto, lenta, sobre, o mármore rosado
Avança a sombra azul d'esta hora moribunda…
Eugénio de Castro, in A Sombra do Quadrante
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