O Relógio Preguiçoso
A pensão da Henriqueta possuía fama em todo o bairros. Destinada a rapazes do comércio e costureiras desempregadas, particularizava-se pelo relaxamento que ia por tudo, e que os hóspedes atribuíam à dona da casa, a qual não saía o dia inteiro do seu quarto. E como tudo andava desorganizado, o relógio da sala de jantar aderia ao movimento, ou à falta de movimento, parando quando entendia e declarando-se em greve ao menor estremecimento do soalho.
Chamado um dia o relojoeiro para consertar o atrevido, o homem tirou-o do seu gancho, na parede, e colocou-o sobre a mesa de refeições. E mal tomou essa posição, pôs-se o preguiçoso em atividade, marcando, com a maior regularidade, as horas, os minutos e, até, os segundos. Posto, porém, na parede, parou de novo, para tornar a trabalhar assim que o deixaram novamente de vidro para o ar, sobre a tábua da mesa.
Ao ver essa teimosia do relógio, o copeiro da casa, o Romualdo, começou a rir, com todos os dentes.
— Não é nada, não senhora. Eu estou achando graça é desse relógio parecer tanto com a patroa.
E concluindo, a dentadura à mostra:
— Ele só qué trabaiá deitado!
Humberto de Campos
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