sábado, 1 de fevereiro de 2020

Calendário ou Retrato dos Meses, conjunto de pinturas do século XVI patente no Museu Nacional de Arte Antiga


No âmbito do programa Obra Convidada, o Museu Nacional de Arte Antiga mantém até 10 de Maio próximo a exposição de doze pinturas em madeira, do século XVI, representando os meses do ano, e que pertencem à Sé (hoje Concatedral) de Miranda do Douro.

O especialista em História de Arte, Professor Vítor Serrão, identificou a autoria desta obra - terá sido feita cerca de 1580, em Antuérpia, na oficina de Pieter Balten, artista flamengo que conviveu e trabalhou com um mais conhecido Brueghel, o Velho.


As doze tábuas de carvalho (medindo 281 x 213 mm cada) estavam na sacristia da Sé de Miranda e não tinham sido, até agora, estudadas com profundidade. O primeiro trabalho sobre o conjunto foi produzido em 2001 por António Rodrigues Mourinho. Segundo Vítor Serrão, elas são um dos exemplos raros em Portugal respeitante à Iconografia do Tempo. O conjunto, conhecido também por Calendário de Miranda, serve ainda para melhor conhecer a obra de Balten, referiu ele, que colaborou na sua investigação com especialistas holandeses do pintor. Um conjunto semelhante ao do calendário mirandês, também atribuído a Balten, encontra-se em Paris, numa colecção particular, que Vítor Serrão consultou, ajudando-o a decidir no processo de identificação do autor das tábuas em território transmontano.


Vítor Serrão produziu uma monografia sobre as doze tábuas flamengas - Os Retratos dos Meses da Sé de Miranda do Douro - Uma rara alegoria pintada em Antuérpia por Pieter Balten (PVP: 25€).


Neste tipo de pintura de género, cada um dos painéis tem uma figura a meio corpo, ora masculina, ora feminina, com os seus atributos a aludirem a um mês específico, "em estreita colaboração com a sua simbologia astrológica e com os aspectos mais característicos do trabalho agrícola correspondente".

"O tema é praticamente inexistente no panorama das artes do nosso país, o que aumenta a singularidade de um conjunto de pinturas como o da Sé transmontana", refere Vítor Serrão. Na monografia, o especialista debruça-se depois sobre cada um dos painéis, abordando a simbologia de cada um (os meses estão grafados, meio em latim, meio em flamengo, em cada uma das tábuas).

O Calendário fazia parte da Pinacoteca episcopal mirandesa. Não se sabe como chegou lá, mas foi das poucas obras, de um conjunto de 127 painéis, que chegou à actualidade, dado que 85% desse acervo desapareceu. Um conjunto completo, em muito bom estado, que foi mesmo assim restaurado, o Calendário de Miranda pode ser agora admirado em Lisboa.


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