O trabalho é alegre e dá alegria. Quando cai a
tarde, vem a fresca; e sobre a ramagem das árvores,
onde a passarada começa a cantar – no céu
esverdeado, lá baixo, os poentes parecem de fogo...
Depois, à noite, não falemos! Tudo aquilo anima-se
de conversas e danças, de descantes e de
namoricos, à luz de um luar de prata. Ouve-se a
viola até se pegar no sono, estirados em cima das
«parvas»; e de manhã, ao acordar, o céu parece
lavado... – Que diferença daquela vida, esta vida!
Mondando ou semeando; nas aradas ou nas
sachas; nas ceifas, nas vindimas, nas apanhas; nos
lagares de azeite no tempo do frio, ou nos do vinho
no tempo da calma – se haveria vida melhor do que
essa! Não, não havia; com certeza que não havia! E
prò não chega, as festas do ano nos seus dias
certos; as feiras e os mercados; os bailes se alguém
casava; os serões pelo Inverno fora – e aos
domingos à tarde, no adro, o jogo da barra mailo do
fito, enquanto em cima, no campanário, repicavam
a algum baptizado...
E como se tudo isso fora ainda pouco, lá
vinham as matanças no tempo devido; as descascas,
as debulhas, as debagas e as carmeadas; as janeiras
à porta do ano, e os Santos-Reis logo ao pé; os
«compadres» e as «comadres»; o Entrudo com a
festa do galo; a Quaresma com as suas devoções, e
para os rapazes com o jogo do pião; pelo S. João as
grandes fogueiras; os magustos em Todos-os-Santos; no Natal as consoadas; – e uma vez por
outra, ao ar livre no campo das trilhas, esses
«autos» que têm tanta fama! Fora o mais! fora o
mais!
Trindade Coelho, Os Meus Amores
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