Ao romper de alva o céu era azul. Apenas de
longe em longe penachos de nuvens brancas
ondulavam as suas cristas alvadias, que se
esfarpavam lentamente ao menor sopro da aragem.
Pouco a pouco o azul ia desmaiando, diluindo-se na luz esbranquiçada que vinha do alto em gradações
imperceptíveis e suaves.
Começavam de animar-se os longes da
paisagem, e a retina acusava já as diferenças mais
salientes dos campos e herdades, pedaços
esbranquiçados de restolhos, tons pardos de olivais,
terras plantadas de vinhedo, e pinheirais cerrados
galgando desfiladeiros e investindo com o céu nos
altos dos montados.
Pelas ladeiras de além, caminhos e atalhos
corriam em torcicolos até ao areal da margem. Em
turbilhões de espuma alvíssima precipitava-se a
água nos açudes marulhando nos altos penedos
marginais, denegridos e informes, de uma mudez
contemplativa e perpétua. Do tecto do moinho, lá
em baixo, uma coluna azulada de fumo elevava-se
tranquilamente no ar sereno e doce, até se desfazer
no espaço amplo e benigno, como uma ambição ou
como um sonho...
Trindade Coelho, Os Meus Amores
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