Obrigado
céu em chamas
infância melancolia
obrigado
gerânios antúrios
quintais infinitos
praias do Leme e Arpoador
obrigado
rádio relógio
movendo meus anseios
e eu não dando pelas horas
(depois do sol
quem ilumina seu lar
é a galeria silvestre
obrigado por tarefa
tão sublime
essa de iluminar
todas as casas)
obrigado
parque xangai
largo da penha dezenove
obrigado
tardes e madrugadas
bazares especiarias
amores e devaneios
obrigado
línguas e povos
de todos os quadrantes
objetos do céu profundo
anéis de Saturno
crateras da Lua
e espinhas no rosto adolescente
obrigado
febres pela herança
de torpor e imprecisão
que deixais ao partir
obrigado
Vieira e os dias
que passei guardando
as armas
de Portugal contra as de Holanda
obrigado
sonhos noturnos
igrejas barrocas e mesquitas
primeiras orações e terço azul escuro
obrigado
cães gatos passarinhos
que por mim passaram
e me fizeram mais sutil
obrigado
inocência que me resta
e cinismo que me atenta
obrigado sangue
difamação joelhos feridos
ao cair da bicicleta
e de há muito cicatrizados
desertos e façanhas
breves e bizarras
mas que me são
e me atravessam
obrigado
amigos
não tenho palavras e silêncios
espadas flamejantes
e mares de calor
muito obrigado
obrigado de verdade
Marco Lucchesi
agradecido
Marco Lucchesi
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